Hoje já se tornou normal, mas logo que cheguei em Paris estranhei a fixação da palavra “bonjour” para o Francês.
Se eu me lembro bem, no Brasil quando queramos pedir uma informação para alguém, começamos por: Oi por favor…
Aqui “s’il te plait” não é importante quanto o bonjour. Não importa o que você deseja, um café, uma informação, no taxi, no caixa do supermercado… comece com um bonjour.
Se você esquecer, o Francês te lembrará, ele vai te olhar no fundo dos olhos e vai falar bonjour com uma boa entonação e bem articulado. Isso me marcou tanto, que agora para onde eu vou, eu aprendo o bom dia no idioma do país.
Mas o que é a gentileza para um Francês ?
Eu tenho uma teoria.
Existe uma ideia no coletivo que o Francês é arrogante. Que nas lojas, restaurantes, bares, o cliente nunca tem razão. Há uma certa superioridade no ar, como dizendo eu não estou aqui para servir.
A gentileza aliás pode ser pejorativa. Por exemplo se você disser “il est gentil”, (ele é gentil) dependendo do contexto pode significar que ele é ingênuo, limite burrinho.
Um dia andando de bicicleta, um carro me fechou sem se desculpar. A minha vontade foi de gritar: Seu corno ! Um amigo caiu na gargalhada. Ele me explicou que nenhum Francês iria se sentir ofendido com “cocu” ou “cocue” para as mulheres. Então, eu lhe perguntei como eu poderia xingar o Francês, ele me responde: “stupide, abruti, bête, crétin, idiot, imbécile…” ou seja tudo que possa significar estupido, burro…
Imagine no Brasil, se alguém me fechar e eu disser: Seu estupido ! Ele provavelmente me dirá que eu sou muito gentil !
Na minha teoria, o Francês não se mostra muito gentil, porque a gentileza tem uma relação com inteligência que é algo que conta muito para ele. O serviço é difícil aqui, principalmente na medicina, mas a amizade é sólida e cheia de gentilezas.
No meu caso, eu aprendi não ser tão boazinha com eles, mas não posso segurar o meu sorriso. No final, eles adoram a gentileza.
